Quando se estuda onde se investir, existe um aspecto que se destaca: a diversificação nas empresas. Uma empresa com atividades diversificadas está, nada mais nada menos do que implementando o conceito de diversificação em sua atividade e se tornando, consequentemente, mais segura. A diversificação nas empresas pode aparecer de muitas formas, e conhecer e entender cada uma delas te permite fugir da manada proteger cada vez mais o seu portfólio.
Quer entender como funciona a diversificação nas empresas e como você pode analisá-la? Segue a gente, que isso vai facilitar para você!
O que é a diversificação nas empresas
A diversificação nos investimentos aparece em diversos textos – desde as técnicas de investimento de pessoas como Warren Buffet ou Benjamin Graham, até na própria definição do que é um Fundo Multimercado. Entretanto, quando falamos da atividade técnica de uma empresa, a diversificação aparece com outro sentido.
Aqui estamos nos referindo a diversificação de atividades de uma empresa. Em outras palavras, diversificar o que faz uma empresa ter lucro. Se você navegar pelo conteúdo do site, irá perceber que há varias dicas sobre como aumentar as suas fontes de renda. Não é algo atoa: uma pessoa com diversificação nas fontes de renda tende a ter mais segurança – e quem não quer isso?
A diversificação nas empresas será quando uma marca de roupas também começar a vender bijuterias. Ou então, quando você entra na farmácia, descobre que perto do caixa também são vendidas balas e doces (longe do objetivo do estabelecimento, de vender “saúde”), ou ocasionalmente médicos que façam atendimento nos fundos. Talvez uma academia permita um estande de vendas de suplemento alimentício para treino. Tudo isso entra no leque de diversificação de fontes de renda de uma empresa.
Vantagens da diversificação de atividades da empresa
Já ficou um pouco mais perceptível que empresas que investem em diversificação de sua atividade tendem a ter algumas vantagens competitivas. De fato, o que o período da pandemia mostrou foi que uma diversificação de atividades foi imprescindível para a sobrevivência de certas empresas. A partir disso, confira em detalhes quais são as vantagens para as empresas que investem em diversificação de renda:
Proteção setorial
Todo setor possui seus riscos. Sejam eles sistemáticos ou não-sistemáticos. Uma vez que uma marca investe na diversificação de seus ativos, ela se aproxima cada vez mais do limite dos riscos sistemáticos do seu modelo de negócios. Com a devida diversificação, ela consegue maior constância e aproveitar ganhos ocasionais de cada um de seus empreendimentos.
Sinergia das operações
Um termo muito comum quando lemos justificativas de aquisições ou fusões de empresas, a sinergia das operações significa o potencial que duas atividades tem de lucrarem juntas. O exemplo do estande de suplemento alimentar na academia é um desses. O foco da empresa de suplementos é fabricá-los, enquanto o da academia, reter seus alunos.
A academia se torna um point para o público-alvo da empresa de suplementos. Claro, uma academia pode alugar o espaço – e estará diversificando suas fontes de renda com isso – mas também pode, ela mesma, começar a vender suplementos. Ambas são escolhas que refletem a diversificação na empresa e ajudam a garantir maior rentabilidade para o negócio.
Diversidade de ideias
Toda vez que se diversifica as frentes de atuação, também se diversificam os profissionais. Há um misto de especialistas e generalistas em todo mercado, fazendo com que as trocas entre eles se tornem ainda mais frequentes. Essa diversidade de ideias pode gerar inovação e desenvolvimento dentro da empresa – uma marca que possua diversidade de atividades tende a ter índices de inovação superiores.
Desvantagens da diversificação nas empresas
Nem tudo são flores, e o mesmo vale para a estratégia de diversificação nas empresas. Enquanto sob certa ótica a diversificação favorece a proteção, os lucros exponenciais e um ambiente favorável a novas ideias, ela também coloca a empresa na iminência de riscos diferentes.
Não atoa, se observa certas companhias abrindo mão da sua diversificação e focando em seu core business. Vendas de subsidiárias e empresas se tornando holdings é um processo que segue essa lógica: foco naquilo que se faz bem. E essa é a primeira das desvantagens da diversificação que você vai conhecer.
Importância do core business
O core business, ou atividade-fim, é a principal atividade de uma marca. Diversas companhias tem a sua: o McDonald’s, é vender hambúrgueres; a Tesla, fazer carros; a Visa, fornecer cartões de crédito. Todas essas empresas podem diversificar suas atividades, seja criando holdings imobiliárias, desenvolvendo painéis de energia solar para seus carros elétricos ou ampliando seu escopo de atuação com transações virtuais. Entretanto, todas elas presam pelo seu core business.
Quando a diversificação fica demais, algumas empresas preferem se desfazer de parte de suas atividades para não perder o foco. E esse é um dos grandes riscos para a diversificação nas empresas: perder o foco. Afinal, se a atividade-fim de uma empresa não é feita a contento, ninguém irá confiar que uma atividade secundária será boa.
Riscos setoriais multiplicados
Começar um negócio demanda investimento inicial. O mesmo acontece com empresas que diversifiquem suas atividades. Embora elas possuam mais capital e crédito, ainda é caro abrir uma nova frente de atuação: contratar profissionais, fazer pesquisas de mercado, testar e lançar produtos. Tudo isso em um mercado que aquela companhia ainda não explorou.
Isso aumenta os riscos das operações envolvendo novas atividades para as empresas, e torna a diversificação nelas algo a se olhar com cuidado.
Mais concorrentes
Enquanto isso, além de aumentarem o escopo, também aumentam as empresas com as quais irão concorrer. Talvez uma marca de refrigerantes não seja concorrente direta de uma marca de sucos, mas duas marcas de sucos diferentes com certeza irão brigar por um espaço na prateleira. Foi um risco assumido pela Coca-Cola, que hoje conta com mais de 20 marcas de bebidas, que vão de chás e águas-de-coco até refrigerantes e bebidas alcoólicas.
Tipos de diversificação nas empresas
O tema da diversificação nas empresas é tão relevante que se faz presente em estudos e pesquisas na área de administração e economia. Logo, é natural que tenham surgido classificações acerca da diversificação nas empresas e como diferentes diversificações irão impactar o desempenho das mesmas. As principais discutidas na literatura são as seguintes:
Diversificação horizontal concêntrica
A diversificação concêntrica nas empresas ocorre quando há grande correlação entre a nova base de negócios da organização e a base de negócios inicial. Dois exemplos caros à literatura econômica são o do leite – fazendeiros que produzem leite e começam a comercializar yogurtes e queijos – ou no trigo – com a comercialização de outros grãos.
Entretanto, também podemos visitar outras empresas mais famosas, como a Coca-Cola. A grande diversificação nas empresas de bebidas do grupo favorece a expertise que a mesma já adquiriu, pegando o restante do mercado que uma coquinha gelada não alcança. Afinal, toda a distribuição, envasilhamento e logística reversa das embalagens funciona para refrigerante, sucos e água.
Diversificação horizontal conglomerada
Por outro lado, a diversificação conglomerada é uma classificação para indicar uma diversificação nas empresas que não dialoga com sua atividade inicial. Pode ser a abertura de um posto de gasolina para quem tem um mercado, ou um curso de inglês para quem possuía uma banca de jornal. Ainda é possível aproveitar algumas sinergias – como a dinâmica de um mercado favorecer a venda de conveniência de um posto de gasolina, ou a banca de jornal vender os suplementos do curso – mas ainda serão atividades distantes.
Integração horizontal
Cabe mencionar ainda outra estratégia de diversificação nas empresas: a integração horizontal. Diferente das outras duas, esta ocorre quando há compra direta das concorrentes da empresa. É uma diversificação, mas se aproxima mais de uma concentração de atividades. Esse tipo de compra é sempre acompanhada de perto por órgãos reguladores, para garantir a livre competição no mercado.
Diversificação vertical
Indo no sentido diferente, a diversificação vertical é quando as empresas diversificam ao adquirir atividades complementares a sua. Há um exemplo clássico na economia nacional: a CSN. A Companhia Siderúrgica Nacional nasceu como uma companhia mineradora na Fazenda da Pedra Branca, mas logo expandiu seus negócios verticalmente.
Foi o que ocorreu com a siderurgia, que pega a matéria bruta extraída nas minas e transforma em chapas de aço. Mais tarde, a CSN adquiriu empresas de logística para levar as chapas de aço até os portos, que também foram comprados, dando-lhe entrada em mercados internacionais. Todo esse processo leva o minério de ferro até a porta de um carro, e garante maior segurança na tratativa com stakeholders da empresa.
Exemplo: Diversificação nas empresas de Elon Musk
Para avaliar a diversificação nas empresas, uma fonte importante de dados é o próprio site de Relações com Investidor da empresa. Peguemos como exemplo o site da Tesla:
É possível notar que há os modelos de carro que a Tesla fabrica – Model S, Model 3, Model X, Model Y. Porém, além deles, também podemos ver: “Solar Roof” (teto solar) e “Solar Panel” (painel solar). Os dois últimos são um exemplo de diversificação horizontal concêntrica.
Isso ocorre pois painéis solares funcionam abastecendo casas e ambientes com energia elétrica proveniente do sol. Essa mesma energia, com o tempo, irá abastecer os carros da Tesla – carros elétricos – na casa dos compradores, tornando o abastecimento do carro (um dos principais gastos do produto hoje), algo barato. O mesmo ocorre com tetos solares, um produto com funções similares, porém que usa de maior tecnologia.
Mas a Tesla também diversifica suas fontes de renda em outra direção. Confira o conteúdo do menu à direita do site:
Aqui temos um exemplo de diversificação horizontal conglomerada (seguro) e diversificação vertical (carregar). Acontece que existem duas outras atividades lucrativas na empresa Tesla: a venda de seguros para carros elétricos e a produção de baterias. Essa diversificação nas empresas de Elon Musk as tornam ainda mais atraentes para o investidor.
Vendo do ângulo da companhia, a fabricação de baterias cada vez mais duradouras e baratas é interessante para a comercialização do veículo. Por outro lado, quaisquer problemas eventuais com o veículo podem ser cobertos pelo seguro oficial do fabricante. Assim, a diversificação na empresa gera lucros em diversas frentes de contato com o cliente.
Como avaliar a diversificação nas empresas
Agora que você já sabe a importância da diversificação nas empresas e como ela se parece, está na hora de perceber como pode detectá-las em uma companhia. Esse processo é importantíssimo para um investidor ou analista que queira regular o risco de uma carteira administrada. Confira o passo a passo que separamos a seguir:
Entenda quem é o cliente final da companhia
Para saber se a empresa está diversificando, entenda o core business da empresa e quem é seu consumidor final. Isso irá te facilitar para encontrar o quem, e responder as perguntas “o que esse público consome”. Se uma empresa possui um público-alvo com baixo poder aquisitivo, não faz sentido ela criar uma diversificação em produtos caros. Por outro lado, se for uma empresa de entretenimento geek, talvez a aquisição (ou ser adquirida por) um mega estúdio de cinema seja exatamente o que ela precisa.
O perfil desse cliente também vai dizer se a diversificação nas empresas será uma boa estratégia. Esse cliente já possui um perfil, que pode ser avaliado por ticket médio, frequência de compras ou engajamento com a marca. Existem indicativos, como o NPS, que também informam se ele estaria disposto a aderir a essa nova diversidade de produtos.
Estude a cadeia produtiva da empresa
Para vender pão, é necessário ter trigo (cadeia produtiva do trigo), levá-lo a padarias (o que envolve o mercado imobiliário e de alimentos), para enfim dispô-lo de um jeito que o fará ser consumido. Essa cadeia produtiva pode dar sinais de boas diversificações nas empresas, como uma fazenda de trigo que seja dona de uma rede de padarias, ou uma empresa de transporte.
Esse tipo de conhecimento pode ser obtido conversando com profissionais do campo ou avaliando, nos relatórios trimestrais das empresas, onde está a maior parte do seu gasto. Esses serão setores que impactam diretamente a cadeia produtiva, e podem ser boas aquisições no portfólio de uma empresa com diversificação.
Pesquisa a expertise da marca
Na diversificação nas empresas é essencial ter em mente qual é a expertise que será melhor aproveitada com aquela aquisição. Uma empresa de tecnologia vai saber gerir uma petshop? Ou uma empresa de bebidas será capaz de desenvolver uma agência de publicidade lucrativa? Essa expertise técnica é a chave para o sucesso comercial de uma marca que queira diversificar suas atividades.
Se ela fez contratações recentes de profissionais experts no campo que está querendo expandir, isso é um bom sinal. Aquisições de empresas focadas naquele ramo também demonstram uma estratégia de diversificação nas empresas madura.