Quando falamos de manter uma carteira de investimentos, muitos ativos diferentes vêm à cabeça. Ações, FII’s, ETF’s, criptoativos, fundos de investimento, renda fixa… Entre todos esses, um se destaca pela sua exposição ao exterior e sua grande variedade: os BDR’s. Acompanhe a gente e entenda exatamente o que é um BDR, qual a diferença entre investir em BDRs ou diretamente no exterior e qual vale mais a pena para você.
O que é uma BDR?
BDRs, os Brazilian Depositary Receipts, ou Recibos de Depósitos Brasileiros, são títulos de ações estrangeiras retidas com uma instituição depositária nacional não dolarizados. Um pouco complicado, certo? Em outras palavras, um BDR é um título brasileiro de uma empresa no exterior. Embora fique mais fácil, essa explicação não passa por certos aspectos desse ativo em particular.
Os BDRs, como dissemos, são títulos de ações retidas com um custodiante. O que isso significa? Significa que títulos como por exemplo GOGL34 (da Google) ou AAPL34 (da Apple), não são exatamente correspondentes às ações americanas (GOOGL, no caso da Google, ou AAPL, no caso da Apple). Embora representem ações com lastro no exterior, os BDR possuem agentes intermediários entre o investidor e a empresa.
As partes de um BDR
Um BDR, logo, é um comum acordo entre três partes: a empresa emissora, a instituição depositária e o investidor, todos supervisionados pela B3. Cada um desses atores também conversa com outros: a empresa emissora responde às normas locais onde é negociada, a instituição depositária dialoga com a B3 e com uma custodiante no exterior, e o investidor precisa se enquadrar nos diferentes tipos de BDR para o sucesso da operação.
Esse alto volume de pessoas envolvidas aumenta consideravelmente os riscos e pormenores que passam por um BDR. Por demandarem tantos atores e instituições, os BDR são divididos em níveis a partir de quais obrigações cumprem para com o investidor e a Bolsa de Valores.
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Quais são os tipos de BDR?
Como mencionamos, há diferentes tipos de BDR. Existem três grandes categorias, segundo a B3: Patrocinados, Não Patrocinados e ETF, muitas vezes confundidos com o primeiro. Cada uma possui um traço específico que pode impactar na sua decisão de compra e no comportamento do mercado. Confira como cada um deles funciona.
BDR patrocinado
Um BDR patrocinado é aquele cuja empresa original tem interesse de abrir seu capital para o mercado brasileiro. No Brasil só há oito delas patrocinadas: Aura Minerals (AURA34), a G2D Investimentos (G2DI34), GP Investimentos (GPIV34), Banco Inter (BIDD34), Nubank (NUBR34), PPLA Participações (PPLA34), Stone (STCO34), XP Inc. (XPBR34).
A maior parte das BDR’s patrocinadas são empresas brasileiras que optaram por abrir o capital primeiramente no exterior, de forma a dolarizar a captação de recursos. Um IPO (processo de abertura de capital) visa angariar recursos para o crescimento de uma empresa. Se esses recursos vierem em dólar, permitem maior valorização e mobilidade financeira para a empresa.
BDR nível I
Os BDR patrocinados de nível I são aqueles que não aparecem em negociações abertas e organizadas pela Bolsa de Valores brasileiras. Elas fogem a necessidade de registro da companhia na CVM, e, até o dia 22 de outubro de 2020, só podiam ser negociadas por investidores qualificados (com patrimônio acima de 1 milhão).
Além disso, as BDR nível I também são obrigadas a divulgar o resultado de suas operações no exterior e quaisquer comunicados emitidos para os acionistas brasileiros.
BDR nível II
As diferenças entre uma BDR nível II e uma BDR nível III são mínimas – tanto é que não há nenhuma BDR nível II listada na bolsa hoje. Aqueles que optam pelo nível II devem cumprir todos os regulamentos que uma empresa brasileira listada na bolsa cumpre.
Todas as informações, normas, direitos e atas devem ser igualmente comunicadas ao investidor brasileiro, com destaque para os valores: todos devem ser convertidos para o real.
BDR nível III
Uma BDR nível III é aquela que cumpre todos os pré-requisitos da BDR nível II, com um adendo: as emissões precisam ser feitas simultaneamente no Brasil e no exterior, desse modo dando maior priorização para o país.
BDR não patrocinado
Toda BDR que não seja uma das listadas acima é uma BDR não patrocinada. Isso significa que instituições outras realizaram a compra das ações de empresas como Amazon, Netflix e Coca-Cola no exterior e se comprometeram, junto a CVM, a manter um lastro para todos os BDR negociados no Brasil.
Isso significa que entre o investidor brasileiro e a ação americana, por exemplo, há um mediador: uma instituição que detêm os direitos do ativo na ação de origem e vende papéis em nome desse ativo no país de destino.
BDR de ETF
Assim como o Brasil possui alguns ETF’s, como o IBOV11, BOVA11 e SMALL11, também os Estados Unidos e quaisquer bolsas no mundo. Um BDR de ETF funciona como um BDR não patrocinado, mas de fundos de índices, replicando seu movimento.
Um exemplo é o BDR BIXN39. Este BDR replica um índice da bolsa americana referente a ativos de tecnologia e informação. Compõem o índice empresas como Amazon, Nvidia e outros.
Como o dólar influencia os investimentos no exterior?
O investimento no exterior é considerado a nova proteção de carteira por parte de um bom público. No entanto, é preciso ficar atento a variação do preço do dólar e entender como ele influencia cada um dos ativos do exterior. Ao investir em BDR, por exemplo, o investidor precisa ficar ciente que está se expondo a dois riscos: o risco cambial e o risco da empresa.
O risco da empresa é aquele que o investidor, na maioria das vezes, já conta. Ao investir em empresas como Coca-Cola ou Amazon, um investidor está apostando na sua consolidação de mercado. No entanto, caso não leve em consideração o risco cambial, o investidor pode estar entrando em um bom mercado no tempo errado.
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Digamos que você tivesse comprado o equivalente a dez ações da Nubank no dia do seu IPO. No dia 8 de dezembro, as ações da Nubank foram vendidas a U$ 9,00 cada, com o dólar comercial na data a R$ 5,77. Cada ação custava cerca de R$ 50,13, então você gastou R$ 501,3.
Vamos também imaginar que hoje a ação está valendo U$ 8,80 (como está no dia 22 de fevereiro de 2022). Se o dólar ainda estivesse valendo a mesma coisa do dia do IPO, seu investimento de R$ 501,3 teria encolhido 3,3% – você teria R$ 484,75.
Só que o dólar não vale mais R$ 5,77, mas sim R$ 5,06. Então aqueles 88 dólares que você tinha devem ser multiplicados pelos R$ 5,06. Resultado: ao invés de R$ 484,75, você hoje teria R$ 445,28. Foram quase R$ 40,00 que você perdeu para a taxa de câmbio.
Esse é o risco cambial, a que estão sujeitos todos os investimentos que não estão dolarizados.
Diferenças entre investir em BDRs e comprar ações diretamente no exterior
Essa é a principal diferença entre investir em BDR’s e comprar ações diretamente no exterior: a dolarização. A cada intermediário que você coloca entre você e o seu ativo, mais arriscado e caro ele fica. Essa, no entanto, não é a única diferença entre o investidor de BDR’s e o investidor direto. Separamos mais alguma para você entender:
Imposto de renda
Diferente das operações de swing trade no Brasil, que permitem uma isenção de imposto em valores inferiores a R$ 20.000,00, para BDR’s essa isenção não existe. Qualquer valor de negociação de BDR deverá ser informado no DARF durante a declaração do Imposto de Renda – a taxação é de 15% sobre os lucros da operação.
BDRs são direcionadas para investidores qualificados
Como dissemos anteriormente, os BDR nível I, que são 4 dos BDR’s patrocinados na Bolsa, são exclusivos para investidores qualificados. Uma diretriz de 22 de outubro de 2020 informa exatamente para quais investimentos isso deixou de valer, mas é outra barreira contra a diversificação de investimentos: alto valor de entrada.
Liquidez das BDRs
As BDR’s são negociadas em quantidade muito inferior e para um mercado muito inferior ao mercado de ações internacionais. Para se ter noção de uma diferença e ordem de grandeza, esse ano a Bolsa brasileira bateu recorde de investidores pessoa física: 4 milhões de CPF’s.
O número é expressivo, mas é exatamente 0,2% do total de pessoas físicas investidoras nos Estados Unidos. O montante gira em torno de 200 milhões de pessoas comprando e vendendo ações diariamente na Bolsa americana. O valor – próximo ao da população inteira do Brasil – garante maior liquidez para os investimentos diretamente no exterior do que os feitos na bolsa brasileira.
Você não é dono da ação de verdade com BDR
Como dissemos, nem mesmo a segurança de ter a própria empresa patrocinando sua entrada no Brasil é possível ter. Com apenas 8 BDR’s patrocinados na bolsa, investir nesse ativo é confiar nas instituições financeiras que estão respaldando esse lastro.
Esse é considerado por alguns parte do “risco Brasil”. O risco Brasil de investir em BDR’s é o risco das instituições responsáveis pelo lastro das BDR’s falirem, não cumprirem com o combinado ou desaparecerem do mapa. É um risco a mais que o investidor corre.
Rentabilidade menor
Muitos compram ações pensando nos dividendos – a distribuição de lucros entre os acionistas. No entanto, se você está de olho em uma fatia dos lucros do McDonalds, tome cuidado: eles são taxados antes de chegar às suas mãos.
Como norma, todo lucro de uma BDR é taxado de imposto de renda antes de chegar às mãos do acionista. Dividendos de BDR’s de empresas americanas, por exemplo, já chegam taxados em 70% nas mãos dos acionistas brasileiros pela normal local.
Como é possível investir diretamente no exterior?
Sim, é possível e legal investir diretamente no exterior. O assunto já foi muito tabu, e continua sendo com escândalos de corrupção envolvendo valores no exterior aparecendo pela mídia. No entanto, é viável, legal, e como abordamos, é uma flexibilização do risco de mercado que você corre ao se inserir em contextos mais lucrativos. Existem duas principais maneiras de fazer esse investimento: por meio das corretoras internacionais ou por meio de gestores internacionais.
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Através de uma corretora internacional
No caso o movimento se parece com o realizado para investimentos em ativos no Brasil: a necessidade de abrir uma conta, transferir dinheiro, e comprar ativos. As corretoras deixam na sua mão a decisão de compra e venda de ativos, mas garante a sua exposição a ações e toda sorte de investimentos internacionais. E claro, cobrando o preço dela no processo.
Taxas cobradas pelas corretoras
O dinheiro, no entanto, precisa ir para o exterior na moeda a ser negociada. É necessário usar a taxa de câmbio comercial, normalmente acrescida de uma taxa – o dólar estando, por exemplo, a R$ 5,00 pode ser comprado a R$ 5,10. Além disso, assim como no Brasil, a corretora pode cobrar pela corretagem e pelas operações. Acrescente a isso o IOF de remessas, cerca de 0,38% sobre o valor. Mas não para por aí.
Cada país possui a sua regulação sobre lucros e dividendos. No Brasil, por exemplo, eles são isentos de imposto. Porém em países como os EUA os lucros de empresas, distribuídos entre os acionistas são taxados. Uma pessoa física que invista até U$ 1 milhão paga 15% sobre os lucros distribuídos pelos ativos no Imposto de Renda.
Outro ponto negativo é sobre o abatimento de prejuízo em ações no Imposto de Renda. No Brasil, caso você tenha tido prejuízo em operações envolvendo ações, pode usar isso como argumento para receber abatimento do imposto de renda. O mesmo não vale para operações realizadas por você em ativos internacionais. Qualquer prejuízo não será considerado na hora de aliviar a mordida do leão.
Através de gestores internacionais
Outras grandes players do mercado internacional são as gestoras internacionais. Essas empresas, a exemplo de gestoras locais, fazem o gerenciamento da riqueza de seus investidores em ativos no exterior. Elas administram fundos ou produtos, muitas vezes oferecidas a corretoras locais (como BTG ou XP) que permitem alguma movimentação e participação nos mercados globais.
Barreira de entrada
Caso você queira investir diretamente em gestores internacionais, cuidado: a barreira de entrada pode ser o seu maior inimigo. Ela funciona como o paywall de sites de notícia: só entra quem paga. Mas aqui o cacife é bem mais alto.
Isso ocorre pois para investir diretamente nas gestoras internacionais – que fazem a gestão consciente dos seus investimentos, o wealth management – você vai precisar do U$ 1 milhão de investimento inicial. São big players do mercado que não movimentam quantias pequenas, deixando a maior parte dos investidores brasileiros de fora.
Dá pra investir diretamente no exterior evitando esta barreira de entrada?
Sim, é possível investir no exterior com baixo capital: a Twelve é uma plataforma que conecta o brasileiro a Gestores profissionais americanos, que vão administrar as suas finanças a partir de valores baixos! A proposta da empresa é que ter uma gestão de riquezas – um wealth management – é um direito de todos. Os valores de entrada são muito inferiores – R$ 5 mil, por exemplo – e permitem que qualquer um que comece no mundo dos investimentos possa se expor ao capital internacional.