A teoria de Dow é o fundamento da análise técnica de ativos. Sugerida por Charles Dow, fundador do Dow Jones Financial News Service – o precursor do Índice Dow Jones (DJI) – a teoria tem por foco o movimento dos preços dos ativos. Ela é estudada por todo gestor e analista financeiro que se propõe a realizar administração de fortunas.
Ela é um must para todo investidor. Saber quando e onde investir é o que garante ganhos exponenciais no mercado de renda variável. Saber “surfar a alta” ou “sair antes da queda” não são adivinhações, mas leituras precisas dos momentos de mercado. E a Teoria de Dow é parte desse arcabouço teórico que o investidor precisa para sair da manada.
O que é a Teoria de Dow
A Teoria de Dow é uma teoria que explica o comportamento do preço olhando apenas para o mercado. Para isso são observados preços de abertura, fechamento, máxima e mínima de uma ação. De acordo com a teoria, todos os interesses convergem no preço.
Isso significa que desde insiders até traders institucionais e pequenos investidores aventureiros, todos estão com seus interesses em jogo. A média de todos esses interesses se manifesta de uma forma: o preço. Com isso, o analista que queira entender os movimentos de mercado deve apenas se preocupar em analisar a evolução do preço no tempo.
As diferentes formas de analisar esse preço no tempo é o que define uma operação de sucesso, com lucro, de uma operação perdedora, seguindo os movimentos de manada – normalmente, pagando caro e vendendo barato um ativo.
Princípios da Teoria de Dow
A Teoria de Dow é estruturada em torno de nove princípios que orientam a análise técnica. Muitos analistas, como Nison, usam esses fundamentos somados a outras técnicas – como os gráficos de candlestick ou a análise fundamentalista – para compor suas estratégias. Para entender cada um dos princípios separamos os seguintes tópicos para você analisar.
As três tendências do mercado
O primeiro princípio diz que o mercado possui três tendências divididas em janelas de tempo de tamanho similar. Elas são divididas em:
- Tendência Primária
- Tendência Secundária
- Tendência terciária
A primeira, a tendência primária, é a mais longa de todas, e apresenta uma direção clara: alta ou baixa. Pode chegar a variar os preços dentro de uma faixa de 20% para cima ou para baixo. Essa tendência é marcada por topos e fundos que vão se somando para indicar uma direção do preço da ação.
Já com um intervalo menor, a tendência secundária pode durar de três semanas a três meses e apresenta um sentido oposto da tendência primária, sem, contudo, reverter o sentido. Ela é um respiro na direção oposta antes de continuar a tendência primária. Assim, caso a tendência primária seja de alta, haverá uma secundária de baixa. Caso a primária seja de baixo, o oposto é o que vale.
Por fim, a tendência terciária é a mais facilmente manipulável dado o seu menor volume e o intervalo de tempo reduzido: máximo de três semanas. Nessa tendência os preços podem lateralizar ou contradizer o sentido geral. É uma das tendências mais perigosas para se operar.
O comparativo clássico de proporção é com as marés, ondas e marolas do mar. Enquanto a maré – um fluxo de muitos dias – é soberana, ela pode conter ondas maiores ou menores. E entre essas ondas, é possível observar algumas pequenas marolas quebrando a superfície da água.
Essa apologia é o jeito mais fácil de traduzir a Teoria de Dow em fenômenos naturais – e você verá que fenômenos naturais são a regra de outras operações utilizando a teoria.
Volume e tendência
O segundo princípio diz que o volume deve acompanhar a tendência. Volume é uma unidade de medida que mede o número de negociações realizadas em um intervalo de tempo gráfico. Normalmente é representado através de um gráfico de barras.
Volume e tendência se acompanhando mutuamente significa que, caso a tendência geral do preço seja de alta, o analista deve observar um aumento do volume em dias de aumento de preço, e queda do volume em dias de diminuição de preço.
Segundo a Teoria de Dow, essa relação ratifica o movimento. Contrariar essa relação pode indicar uma reversão de preços. Se, por exemplo, as ações de uma empresa como a Apple estiverem apontando em um gráfico constante de alta, o investidor deve olhar os gráficos diários de volume. Há um volume maior nos dias ou semanas de alta, ou nos dias ou semanas de baixa?
Caso haja volume nos de alta, o volume está confirmando a tendência. Isso indica que a tendência ainda tem espaço para continuar, gerando mais lucros para quem está “comprado”.
Caso haja volume nos de baixa, o volume estará contrariando a tendência. Isso indica que essa mesma tendência pode estar perdendo força, e talvez seja hora de se desfazer de uma posição comprada e entrar em uma vendida, ou mesmo realizar seus lucros e buscar um novo investimento.
Tendência de alta em três fases
O terceiro e o quarto princípios analisam as tendências primárias de alta e de baixa. A tendência primária de alta, por exemplo, é dividida em três fases:
- Fase de acumulação
- Fase de subida sensível
- Fase de estouro
Confira o papel de cada uma delas na Teoria de Dow abaixo, e como operar com cada uma delas.
Fase de acumulação
A fase de acumulação é marcada por um momento em que insiders ou outros agentes de mercado informados começam a comprar. Essa fase é chamada “acumulação” pois os investidores nesse momento sabem o alvo que buscam alcançar com seu rendimento e observam em um ativo subvalorizado uma “oportunidade”.
Nessa fase, olhar as notícias é um bom termômetro. As ações em fase de acumulação estão fora do radar de grandes analistas ou empresas. Segundo a Teoria de Dow, essa atenção da mídia, que atrai investimentos, só vai marcar outros momentos. Afinal, mesmo os gestores de investimento acompanham as notícias.
Fase de subida sensível
Nesse momento a empresa apresenta melhores resultados. O preço foi estabilizado pelos acumuladores da fase anterior, e alguns poucos investidores já começam a aportar nesse investimento. Esse movimento, levado pelo cheiro de novas oportunidades, provoca um aumento no preço das ações.
Fase de estouro
A fase de estouro é quando o mercado como um todo “descobre” essa grande oportunidade. Há um rush em direção a ação que já entregou grandes ganhos e promete entregar outros ainda maiores. De acordo com a Teoria de Dow, essas ações começam a figurar nos noticiários especializados e “na boca do povo”.
É também no final da fase de subida sensível e na fase de estouro que os acumuladores da primeira fase se desfazem das ações, tendo realizado seu lucro. Ele costuma coincidir com um momento econômico favorável a nível nacional.
Tendência de baixa em três fases
Assim como a tendência de alta, a tendência de baixa também opera em três fases distintas. A Teoria de Dow é bem clara quanto aos gatilhos, e é possível observar que a presença dos três grupos – insiders, investidores atentos e manada – também irá influenciar as seguintes três fases de baixa:
- Fase de distribuição
- Fase de pânico
- Fase de baixa lenta
Distribuição
Essa fase se confunde com a fase de estouro pois ambas são motivadas pelo mesmo fator: realização de lucro pelos investidores que apostaram no começo do período de alta. Observando o humor do mercado e identificando que os ativos comprados estão sobreprecificados, eles realizam a venda e, consequentemente, o lucro.
O nome “distribuição” faz alusão a isso: a distribuição dos lucros entre os investidores de mais tempo. Uma vez que se esgota a pressão compradora, a Teoria de Dow aponta que começa a pressão vendedora – e é nessa virada que é possível ver a reversão de gráficos de volume no sentido contrário ao da tendência.
Pânico
Nesse momento a força compradora é quase nula. Observando isso, e que as vendas por preços cada vez mais altos não estão acontecendo, os investidores começam a ter pressa em zerar posições. Isso leva a uma “limpeza do book”, quando qualquer lance é aceito para se realizar algum lucro.
O problema é que isso cria uma onda de feedback negativo. No dia 1, o preço cai um pouco, convencendo mais pessoas a venderem no dia dois, e menos pessoas a comprarem. A Teoria de Dow aponta que esse reforço leva a uma queda ainda maior no dia 2, e assim sucessivamente, até a fase de baixa lenda.
Baixa lenta
Finalizando o processo de queda, a Teoria de Dow aponta a fase de baixa lenta como o caminho. Nessa fase, o preço está muito abaixo daquele comprado, e, por vezes, abaixo mesmo do valor considerado “justo” pelo mercado. Aqui, traders viram holders e o volume de negociações cai bastante. É quando o mercado se preparar para uma nova direção.
Valor justo das médias
Outro princípio que norteia a Teoria de Dow é o valor justo das médias. A média de preço – o resultado consolidado das forças ao longo do período – é absoluto. A Teoria de Dow possui, inclusive, um nome para atos que contrariem o total das médias, mesmo que por pouco tempo: Atos de Deus.
Atos de Deus na Teoria de Dow
Segundo essa teoria, os “Atos de Deus” são momentos grande eloquentes que ninguém poderia ter previsto. A queda das Torres Gêmeas, por exemplo. Um ato de grande força e impacto que chocou o país fez a bolsa de ações cair drasticamente nos dias que se seguiram.
Porém, mesmo esses “atos divinos” não perduram. Um mês depois do 11 de setembro, é possível observar como o Índice Dow Jones têm alta súbita, rompendo o topo anterior e voltando a patamares pré-atentado.
Confirmação das médias
Para entender esse sexto princípio, é importante ressaltar que Dow Jones havia pensado, ao formular sua teoria, em duas médias que seriam balizadoras do mercado: a média industrial e a média de transportes. Esses foram os dois primeiros índices criados pelo pesquisador.
Segundo a Teoria de Dow, o movimento de ambas as médias deveriam ter o mesmo sentido. Isso significa que, caso o Dow Jones Industrial seguisse para cima, o Índice de Transportes deveria ir na mesma direção. Por quê? Porque, se de um lado, a indústria faz os bens, do outro, os transportes os entregam.
O descompasso entre entrega e produção resultaria em, eventualmente, um descompasso nos resultados. Aqui é importante frisar que Jones formulou suas teorias no final do milênio passado. Os perfis de indústria e a realidade tecnológica mudaram muito desde então – apesar da logística ainda ter um papel chave mesmo nas Big Techs americanas.
Desenvolvimento em linha do mercado
É possível – e não contraria a tendência – que o mercado se mova em linha. Pelo menos, é o que diz o sétimo princípio da Teoria de Dow. O desenvolvimento de linha é um movimento que ocorre quando o preço da ação sobe até certo valor, para, cai até certo patamar, e repete o processo.
Ele é característico por ser um micro intervalo de acumulação. Nele, investidores inteligentes acumulam nos fundos e vendem nos topos, angariando lucros em intervalos menores de tempo antes do rompimento de algum topo anterior.
Médias com preço de fechamento
Hoje esse é o formato padrão, mas quando a Teoria de Dow foi formulada, era importante frisar que as médias eram traçadas com o preço de fechamento do ativo. Existem outras formas de calculas a média do dia. A soma de volumes e valores negociados ao longo do dia dá peso a esse movimento.
Entretanto, Dow considerava que o preço de fechamento era o “acordo tácito” do mercado. Era onde todos os ativos concordavam. E, finalmente, onde os investidores chegavam em comum acordo quanto ao preço justo dos ativos.
Reversão de tendência
O nono princípio da teoria de Dow diz que “a tendência vale até ocorrer a reversão”. Os sinais de reversão são vários, mas a reversão propriamente dita é uma tendência, com as janelas de tempo que já abordamos.
Em meio a tudo isso, a reversão de tendência indicará quando o movimento se esgotou e está rumando a uma direção diferente. Ela pode zerar ou diminuir drasticamente os ganhos obtidos anteriormente. Nesse ínterim, é importante observar que pequenas oscilações não são consideradas reversões de tendência.
Esse princípio da teoria de Dow busca sinalizar para o investidor que “não é porque subiu ontem, que não subirá hoje”. Ajuda o investidor, assim, a se manter fiel a sua proposta de investimento e a recolher os lucros da operação no futuro.
Críticas a Teoria de Dow
Como toda teoria, a Teoria de Dow tem suas críticas. Os principais eixos de crítica falam sobre:
- Timing da sua aplicação
- Baixa clareza
- Contexto
O primeiro é fácil de entender. A teoria orienta o investidor a agir na segunda onda. Ele identificaria o movimento da primeira, faria seus aportes no começo da segunda e venderia quando houvesse o rally da terceira. Essa seria a operação “segura”, mas que, na ausência de sinais, faz com que ele não possa aproveitar a primeira e a terceira leva.
Já o segundo, baixa clareza, diz respeito a falta de indicadores consistentes de mudança de direção. Se o nono e sétimo princípio são verdades, então possivelmente o investidor só agiria com sinais muito tardios. Isso faria com que ótimas oportunidades sejam perdidas pela falta de clareza quanto aos sinais a serem observados.
Por fim, o contexto deve ser levado em consideração, sobretudo pelo investidor brasileiro. Dow formulou sua teoria no contexto da bolsa americana. Criou, inclusive, índices para ajudá-lo. Esse contexto específico, de uma economia muito mais dinâmica e uma cultura de investimento muito mais disseminada, fez com que o teórico formulasse uma teoria que, por vezes, funciona mais lá do que cá.
Conclusão: como toda teoria, precisa de prática
A Teoria de Dow é extremamente importante para o mercado de capitais. Investidores e gestores se baseiam nela para fazer aportes, mas não apenas nela. O estudo sistemático de mercados qualifica os gestores capacitados para tomar decisões no calor do momento – mas mesmo esses tiveram anos de experiência para entender o que seria a decisão certa.
A teoria nunca substitui a prática. Nesse sentido, o mesmo vale para a Teoria de Dow. Entendê-la ajuda o investidor que acompanha o mercado dia a dia a tomar decisões mais assertivas de negócios. Porém, só ela não é o suficiente para determinar uma ordem de compra ou venda, de entrada ou saída de uma operação.